domingo, 22 de maio de 2022

LXIX -) Aid

  Sigarda's Aid — Howard Lyon Fine Art and Illustration


"And I find sorrow in idle mind

and solace in being heard"

"Destroyer" - Of Monsters And Men


Estou com vários pensamentos há alguns dias, conversei bastante com o Matheus (o psicólogo, e vai ser cada vez mais comum eu citá-lo aqui, ainda mais tendo dois encontros por semana) sobre essas coisas. Apesar de serem diferentes meio que elas fazem parte do mesmo todo e ciclo. Quis até enrolar um pouco pra escrever aqui pra ter tempo de digerir algumas coisas que conversamos, principalmente nessa última semana.
Vai ficar meio longo, porque vou contar algumas coisas beeeeem profundas e pessoais, mas lê até o fim, estou tentando mostrar coisas importantes e também estou tentando pedir ajuda disfarçado de "contar algumas coisas".
Basicamente tenho vários traumas que me fizeram ser quem sou e da forma que sou e isso não me faz bem e não faz bem pras pessoas que eu gosto. Esses traumas são basicamente o que estruturam o medo, a minha depressão e ansiedade, três coisas que também são diferentes mas fazem parte do mesmo todo e ciclo. E estamos trabalhando exatamente nesses pontos para melhorar e pra eu não machucar ninguém, inclusive a mim mesmo.
De novo vou falar que acabo ficando com muito medo de perder as pessoas no futuro e acabo tentando fazer coisas pra não acontecer isso, só que vou destruindo minhas relações no presente no processo e isso me faz mal (engraçado que dá pra ver os 3 pontos, medo, ansiedade e depressão). Yeah, yeah, a gente já ouviu isso. Mas o que até hoje eu não tinha pensado é que esses traumas não vêm só da perda da minha mãe quando eu era jovem e as demais ao longo da minha vida, mas também são alguns traumas herdados dela, por exemplo. O que quero dizer com isso é, eu vi minha mãe sofrer muito por conta dos pais dela. Ela ficou anos sem conversar com eles porque o único irmão dela manipulava as coisas e minha mãe era bem pavio curto e acabava fazendo igual o que eu faço, sai brigando e xingando. Em certo momento da minha vida, minha mãe simplesmente cortou a relação com meus avós, ou eles fizeram isso com ela, eu até hoje não sei o que houve direito, mas fato é que eles ficaram anos sem conversar. Minha mãe também tinha depressão, ela ficava deitada horas sem vontade de fazer nada, sem vontade de viver e muito disso foi por causa desse desentendimento com os pais dela. Minha mãe morreu sem falar com eles, sem vê-los, sem receber visita deles (inclusive nos meses que ela estava na UTI), sem ter nenhum contato e isso foi uma dor tão grande pra ela que eu não consigo explicar... Quem acompanhou de perto toda essa saga dela de anos fui eu, eu que ficava com ela, eu que cuidava dela, eu que ajudava com as coisas da casa (como cozinhar), meu pai ia trabalhar e meu irmão ficava no PC, mas eu estava sempre com ela e vi muito desse sofrimento. Nossa, tocava "Pai" do Fábio Jr. e ela chorava muito mesmo, era muito triste... Matheus disse que isso têm influência direta com a minha relação de perda. Ver todo esse trauma dela sobre "perder" pessoas que estão lá, que podem ser acessadas mas não conseguimos moldou muito disso... (Quero só fazer um adendo, vai ser improvável eu falar sobre os pais da minha mãe de novo, apesar de serem meus parentes, eles não são família. Então sempre que me referir aos meus avós, vai ser por parte de pai, se forem os de mãe eu vou sempre tentar falar os pais da minha mãe).
Tenho um outro ponto que quero falar, já falei sobre o pavio curto da minha mãe e agora quero falar da mesma coisa do meu avô. Meu avô tratava minha mãe como uma filha, eles realmente se amavam muito, mas isso não impedia que eles brigassem muito. Isso também me gerou alguns traumas de como sou hoje. Meu avô era explosivo pra cacete e acabava falando um monte de merda que ele nem estava pensando ou sentindo de verdade só pra machucar, quando ele se acalmava e o ímpeto passava, ele pedia desculpas e era como se nada tivesse acontecido pra ele. O que aconteceu na briga, ficou na briga, essa era a cabeça dele. Só que o que a gente fala pras pessoas e as machuca ficam com elas, não é tão difícil assim perdoar a mágoa pra quem se sentiu "atacado". Meio que aprendi a fazer igual meu avô, esse é um outro trauma, também com a ajuda do Matheus a gente conseguiu mapear isso e enxergar que isso é um ato que acontece para querer mostrar afeto e falar como me sinto. Parece que quando faço isso as pessoas me ouvem mais. Mas eu não posso pautar as coisas que quero dizer, minha interação com as pessoas e meu afeto somente nessas emoções. Estamos trabalhando com isso também, estou conseguindo encontrar outras formas de falar o que quero e de me relacionar. Vir aqui escrever é uma dessas formas, inclusive. Matheus falou pra eu eu continuar sempre escrevendo, e ando tentando encontrar a forma certa do que quero dizer e também digerir as coisas antes.
Bom, tudo que disse aqui é só uma forma de vocês, ou melhor, da gente entender melhor como sou e porque sou dessa forma. Ainda estou digerindo essas informações, nunca passou pela minha cabeça que ver o sofrimento da minha mãe com os pais dela fossem me gerar esses traumas, por exemplo.
A gente falou de várias outras coisas, mas outro ponto importante é referente a reforço positivo. Já tinha comentado com a Van no início da semana passada sobre isso e falar com o Matheus só deu mais embasamento pra isso. O ser humano trabalha para a aprovação do grupo em que está inserido e a gente tem uma porrada de teorias que falam sobre reforço, por exemplo, quando estudei ADM a gente viu sobre Skinner que fala de comportamento, mas é exatamente sobre a mesma coisa no fim (presta atenção no Skinner aí Bea, sempre cai em prova).
Olha, eu não sou de pedir ajuda, normalmente tento me virar, mas nesse caso (com o apoio do Matheus) estou aqui pedindo ajuda. E é esse o motivo que estou falando sobre isso. Eu nem sei como exatamente pedir isso em palavras, mas queria muito que vocês vissem as mudanças que estou tendo, tanto internamente quanto o reflexo externamente. Eu estou mudando a forma como me relaciono com as coisas, com o tempo, com a tristeza, com a depressão, com a perda, com a felicidade, com os prazeres, com os momentos e etc. Muita coisa que colocava muita energia não estava me trazendo coisas boas, como xingar no trânsito, estou me importando com coisas que são realmente importantes pra minha vida e pra vida das pessoas que amo. A meditação têm me ajudado bastante, o Matheus têm me ajudado bastante a entender várias coisas. Eu entendi que está tudo bem as coisas não acontecerem como eu planejava, está tudo bem as coisas serem diferentes, está tudo bem no futuro porque está tudo bem eu viver o agora. E é isso que estou tentando fazer, viver o agora, não consigo mudar o passado e o futuro não importa agora, porque o que importa agora é o agora...
É difícil mostrar isso pra vocês, essas mudanças, porque são profundas e mais internas, os pequenos atos de calma que serão visíveis na superfície são pouco relativo a mudança total. Tenho um ótimo exemplo, ontem saí com Rob e Pedro, ambos atrasaram e eu fiquei nem aí, me deixaram com tempo pra pensar e muito do que estou falando aqui foi do momento que eles me deram pra refletir, então estou levando essas coisas como um presente. Enfim, mas no fim o que quero dizer é, me ajudem. Me ajudem a continuar assim, preciso do reforço positivo de vocês. Algum comentário construtivo, algum afeto inesperado, alguma gentileza, sei lá. Eu sei que é pedir muito vocês deixarem a dor, a mágoa e toda merda que fiz e falei, mas tentem se for importante pra vocês.
Estou tentando reconstruir essas relações, mas não consigo sozinho... Me chamem...
E está tudo bem também se perder algumas, precisei disso pra aprender. Mas eu não quero que aconteça o mesmo que aconteceu com minha mãe e seus pais, não quero deixar de ter uma relação com as pessoas que consigo alcançar. Estamos aqui agora... Não quero destruir mais nada, não quero transformar mais anda em desastre. Isso foi uma promessa pra mim mesmo.
Esse é o meu jeito de tentar alcançar vocês...
Enfim, obrigado por ler até aqui. Obrigado por tentarem.

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